quarta-feira, 29 de junho de 2011

O fim do livro de papel

Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam cada um o preço de uma casa. Isso foi 3 décadas antes de a Bíblia de Gutemberg chegar as ruas. Depois dela, os livros deixaram de ser obras artesanais exclusivas de milionários e viraram o que viraram. Graças a uma novidade: a prensa de tipos móveis, que era capaz de fazer milhares de cópias no tempo que um monge levava para terminar um manuscrito.
Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá. Só que uma revolução que já acabou. Há 10 anos, pelo menos. Quando a internet começou a crescer para valer, ficou claro que ela passaria uma borracha na história do papel impresso e começaria outra. Óbvio: os 7 milhões de volumes que a Universidade de Cambridge mantém hoje nos 150 Km de prateleiras de suas várias bibliotecas caberiam em 4 discos rígidos de 500 gb. Só 4. Sem falar que ninguém precisaria ir até Cambridge para ler os livros.
Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava: nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as vendas dos livros. Muito pelo contrário. O 2º negócio online que mais deu certo ( depois do Google ) é uma livraria, A Amazon. Se um extraterrestre pousasse na Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por que o livro não morreu? Como uma plataforma que, se comparada à internet, é tão arcaico quando folhas de pergaminho ou tábuas de argila continua firme?
Você sabe por que. Ler um livro inteiro no computador é insuportável. A melhor tecnologia para leitura profunda e demorada continua sendo tinta preta em papel branco. Tudo embalado num pacote portátil e fácil de manusear. Igual à Bíblia de Gutemberg. Isso sem falar em outro ingrediente: quem gosta de ler sente um afeto físico  pelos livros. Curte tocar neles, sentir o fluxo das páginas, exibir a estante cheia. Uma relação de fetiche, amor até.
Mas esse amor só dura porque ainda não apareceu nada melhor que um livro para a atividade de ler um livro. Se aparecer...
Se aparecer, não: quando aparecer. Depois do cd, que já morreu, e do dvd, que está respirando com ajuda de aparelhos, o livro impresso é o próximo da lista.
Há 3 anos apareceu o primeiro livro eletrônico realmente viável: o Kindle, da Amazon. Você compra um aparelho e aí pode baixar qualquer livro de um catálogo de 20 mil  títulos ( quase todos em inglês). Com a vantagem de que pode fazer isso de qualquer lugar, pela 3G. E de que cabem 1500 obras no bichinho de 400 gramas. Assim, de cara, ele até parece estranho, com sua tela monocromática e pequena ( 6 polegadas ). Mas a primeira vez com ele você nunca esquece. E você corre o risco de se apaixonar. O segredo desse poder de sedução é a tela do Kindle. Por causa do seguinte: ler por horas num LCD comum não é diferente de ficar olhando para a lâmpada. Uma hora seus olhos pedem arrego. Mas com o Kindle não. Ele não emite luz. A tela é feita de tinta de verdade, preta para as letras, branca para o fundo, e a leitura flui se a tela fosse de papel. Ou quase: tinta eletrônica demora para reposicionar quando você vira a página. E virar a página é eufemismo, na verdade. Ao contrário de um livro comum, elas não são sensíveis ao toque. Tem que apertar botão. Chato. Por essas, o Kindle nunca foi uma ameaça à venda de livros comuns. Mas, em janeiro, veio o iPad, da Apple. Com uma proposta ambiciosa: aposentar o Kindle e virar iPod dos livros eletrônicos. À primeira vista, ele cumpre a promessa. Tudo o que Kindle tem de empréstimo esse iPhone de Itu tem de ótimo: tela enorme, colorida, páginas que você vira com os dedos, sem botão, como se estivesse com um livro normal. Mas não. Não dá para chamar o Steve Jobs de Gutemberg 2.0. O iPad tem uma falha de nascença: a tela de LCD. Não dá para ler um romance inteiro ali. Seus olhos vão implorar para que você largue o iPad e tente um livro de verdade, daqueles do Gutemberg 1.0 mesmo.

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